terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Não, sim, quer dizer... pois



Ela telefona-lhe, diz-lhe,
Preciso de ti, do teu amor, hoje mais do que nunca.

Ele estranha a sua declaração, pois não falam há muito tempo, pergunta-lhe,
Porquê agora, depois de quase um mês de silêncio?

Ela faz uma pausa, como que procurando as palavras certas, depois responde-lhe,
Porque sinto a tua falta.

Assim, de repente?

Assim, de repente.

Ele, confuso,
Disseste que não me querias, lembras-te?, diz, indignado.

Não percebeste nada!, reclama ela.

O que é que eu não percebi, exactamente? Foste muito clara: disseste-me acabou, não quero continuar contigo.
E, desde essa altura, estou à espera que me ligues e que digas que me amas, e não ligaste...

Porque disseste para não ligar!

E depois? Isso impedia-te de me contrariar?

Ele emudece, baralhado.

Ela insiste,
Não me querias?

Claro que queria, sabias bem que sim.

Então, porque desististe tão facilmente?

E tu, porque desististe?

Eu não desisti, explica ela, só queria ter a certeza de que me amavas.

Mas eu amava-te, eu amo-te, tu sabes.

Mas preciso que me digas todos os dias, queria que não te importasses com o que te dizia e que lutasses por mim.

Rejeitaste-me só para eu lutar por ti, diz ele (é mais o reflexo da sua incredulidade do que uma pergunta).

Era um teste, diz ela, para reforçar a nossa relação.

E chumbei no teste.

Claro que chumbaste!

Disseste que não, mas querias dizer que sim.

Não, quer dizer, sim, disse-te que não mas dei-te a entender que sim.

Ele abana a cabeça, desconcertado,
Gostava de perceber o que vai na tua cabeça.

Não tentes, avisa-o ela, suspirando, porque às vezes nem eu sei.


Tiago Rebelo, Escritor