Ela telefona-lhe, diz-lhe,
Preciso de ti, do teu amor, hoje mais do que nunca.
Ele estranha a sua declaração, pois não falam há muito tempo, pergunta-lhe,
Porquê agora, depois de quase um mês de silêncio?
Ela faz uma pausa, como que procurando as palavras certas, depois responde-lhe,
Porque sinto a tua falta.
Assim, de repente?
Assim, de repente.
Ele, confuso,
Disseste que não me querias, lembras-te?, diz, indignado.
Não percebeste nada!, reclama ela.
O que é que eu não percebi, exactamente? Foste muito clara: disseste-me acabou, não quero continuar contigo.
E, desde essa altura, estou à espera que me ligues e que digas que me amas, e não ligaste...
Porque disseste para não ligar!
E depois? Isso impedia-te de me contrariar?
Ele emudece, baralhado.
Ela insiste,
Não me querias?
Claro que queria, sabias bem que sim.
Então, porque desististe tão facilmente?
E tu, porque desististe?
Eu não desisti, explica ela, só queria ter a certeza de que me amavas.
Mas eu amava-te, eu amo-te, tu sabes.
Mas preciso que me digas todos os dias, queria que não te importasses com o que te dizia e que lutasses por mim.
Rejeitaste-me só para eu lutar por ti, diz ele (é mais o reflexo da sua incredulidade do que uma pergunta).
Era um teste, diz ela, para reforçar a nossa relação.
E chumbei no teste.
Claro que chumbaste!
Disseste que não, mas querias dizer que sim.
Não, quer dizer, sim, disse-te que não mas dei-te a entender que sim.
Ele abana a cabeça, desconcertado,
Gostava de perceber o que vai na tua cabeça.
Não tentes, avisa-o ela, suspirando, porque às vezes nem eu sei.
Tiago Rebelo, Escritor