quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Às vezes sinto-me cansada...

…,de ver que o país vai de mal a pior. Não é fácil ir a um hospital e ver que a média de idades dos doentes internados é acima dos 75 anos de idade e de certeza que pelo menos 80 % deles não são dependentes para satisfazer as suas necessidades. Hoje em dia, quando chegamos ao serviço hospitalar só queremos ser atentidos rápidamente para regressarmos a casa daquele "inferno".

Ontem fui com o meu namorado as Urgências, isto umas 11h e talª, não havia mais de dez pessoas sentadas na sala de espera e reparei que no painel mostrava 1h/2h e 30m de espera. Vim a casa levar a minha mãe e, na esperança que ele me ligasse para o ir buscar, isso não aconteceu. Antes de entrar ao serviço regressei lá com o meu mafriend e, imaginem, a sala estava cheia e o tempo de espera nesse intervalo mudou para 4h 30m  :o  e o meu namorado e essas dez pessoas ainda estavam a espera de uma voz no autifalante.
A irmã dele foi busca-lo...as 19h, 7h +/- de espera, sem que ninguém se preocupassem com eles, sem comer, sem nenhuma auxiliar ir ver se alguém estava pior...idosos em sofrimento, crianças em dor, não se vê ninguém a conversar entre si...apenas o silencio reina no meio de "ais" e "uis". Se se chamam urguências, não devia ser um atendimento rápido? Se não fosse urguência iamos ao médico de familia, mas nem isso o pessoal aqui dos meus lados teem!
Percebemos então porque ninguém gosta de ir ao hospital...veem de lá mais doentes...
Nem damos por nós a perguntar se está tudo bem...quando os olhamos no rosto…
Trabalhei durante um ano no Hospital Distrital de Abrantes e possso afirmar que a vida para os médicos e auxiliares não é facil, mas alguns também não se esforçam para ser melhor.
Há dias que entram quase em desesperança…, há dias em que mal consiguem estar com as famílias dos doentes, com sossego,… Há dias que podem pensar que são antipáticos, porque mal os olham nos olhos quando lhes perguntam pelos familiares.
Havia dias que as lágrimas vinham aos olhos quando quatro ou cinco doentes pediam as mais variadas coisas ao mesmo tempo e não conseguiamos dar resposta, havia dias que…eram anos.
Às vezes sentava-me e olhava o corredor cheio… com doentes em maca e pergunto-me… Se há pessoas que conhecem esta realidade, em que ouvimos gemidos de dor, em que ouvimos gritos de doentes agitados, em que ouvimos alguém a pedir sofregamente, em que existem pessoas que morrem no corredor… connosco ou na nossa passagem… não morrem sós, mas morrem como se de um descampado se tratasse, cheio, mas de gente desconhecida…
No meio desse “descampado” essas pessoas doentes são capazes de mesmo assim nos dar um grande sorriso, sabendo que há sempre alguém em quem podem confiar… mesmo que nos conheçam há 5 minutos. E são estes sorrisos e são estes olhares ternos de quem já não consegue falar, em rostos que o tempo marcou, que me fazem esquecer que…

O mais importante num hospital será certamente responder o mais rapidamente possivel às necessidades dos utentes. Pode passar portanto por contratar mais profissionais (de todas as áreas e não só pessoal médico ou enfermagem), já que no caso do Centro Hospitalar movimentam-se diariamente centenas de doentes (quer internados quer de ambulatório) e a capacidade de resposta por parte dos profissionais é por vezes posta em causa principalmente pela demora.
Deveriam ser contratados mais auxiliares de acção médica neste caso específico. Os médicos também me parecem em falta, não por não existirem mas simplesmente por não estarem...especialmente à noite...
Fipa